Experimentos de Física para o Ensino Médio

com Materiais do Dia-a-Dia

(High School Physics Experiments with Everyday Materials)

 

 

Welber Gianini Quirino e F.C. Lavarda

Departamento de Física

Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista

Caixa Postal 473, CEP 17033-360, Bauru, SP, Brasil

lavarda@bauru.unesp.br

 

 

Propostas de barateamento de laboratórios didáticos de Física já vem há muitos anos aparecendo na literatura especializada em Ensino de Física. No entanto, no nosso ponto de vista, a comunidade de professores do Ensino Médio se encontra carente de uma publicação que contenha uma boa coleção de experimentos de fácil execução, custando nada ou quase nada. Este trabalho tem como objetivo apresentar um projeto que visa preencher esta lacuna com experimentos que possam ser montados por professores e alunos em sala de aula e sejam conceitualmente significativos.

 

 

 

 

Proposals of low cost Physics laboratories for teaching has been appearing for many years in the literature. However, in our point of view, the Physics teachers community is lacking a good collection of easy execution experiments for nothing or almost that. This work has the objective to present a project which intends to provide that collection with experiments that could be mounted by teachers and students at the classroom and being conceptually significant.

 

1. Introdução

Tradicionalmente a Física é considerada pelos professores uma disciplina difícil de ser ensinada e conseqüentemente os alunos relatam dificuldades de aprendizagem dos conteúdos. Isto ocasionou a redução da carga horária desta disciplina, chegando a um número insignificante em alguns casos. Considerando que hoje as únicas disciplinas obrigatórias do Ensino Médio são Português e Matemática, esse quadro é muito preocupante, pois os alunos podem fazer a opção de estudar ou não Física. Por isso, procedimentos alternativos de ensino certamente são necessários para instigar a participação dos alunos e aumentar o interesse pelos conteúdos ministrados nas aulas de Física. Esses procedimentos devem ser dinâmicos e permitirem a participação interativa dos alunos.

A sociedade hoje, com toda a tecnologia que dispõe, não aceita mais um procedimento de ensino exclusivamente expositivo. Isso se reflete na falta de interesse dos alunos em aulas convencionais. Além disso, boa parte dos alunos do Ensino Médio não são mais estudantes em tempo integral, o que exige ainda mais do professor em termos do planejamento de aulas que atendam às necessidades dos alunos.

Observamos que os professores se encontram carentes de alternativas para escapar do ensino tradicional. Há que se considerar também que o professor em geral não recebe treinamento, nem durante nem após a sua graduação, que lhe permita desenvolver técnicas para um ensino mais dinâmico. Sabedores do consenso entre os professores de Física que a utilização de experimentos é uma técnica que atrai os alunos, resolvemos prover algo neste sentido. O uso de experimentos pode ser uma possibilidade de transição dos modelos tradicionais de ensino para a construção de formas alternativas de ensinar Física. De acordo com nossa experiência, quando o professor introduz os experimentos em uma sala de aula comum, ele se vê frente a um novo comportamento dos alunos: mais interessados e participativos. Neste momento ele poderá fazer a opção por uma determinada didática que inclua o uso de experimentos.

2. Apresentação do Projeto

Nosso trabalho tem como objetivo selecionar uma coleção de experimentos simples de Física, preferencialmente sem custos para o professor e/ou aluno, que possam ser montados por ambos e que possibilitem uma aprendizagem significativa dos conceitos fundamentais.

Não é nosso interesse simplesmente apresentar experimentos de baixo custo. Essas iniciativas têm, em geral, o objetivo de proporcionar experimentos sofisticados por um custo menor que aquele dos fabricantes. Mas muitas vezes demandam recursos tais como peças ou materiais difíceis de serem encontrados ou então oficinas. Esses fatores impedem que o professor do Ensino Médio, principalmente aquele da rede pública, venha a se utilizar desses experimentos. A realidade hoje é tal que, na imensa maioria dos casos, o professor não tem tempo e nem a escola tem recursos para reunir todos os materiais e equipamentos necessários. Para contornar esse problema, o custo deve ser o menor possível e os materiais devem estar disponíveis na maior parte das cidades do país. Para isto, a seleção dos materiais utilizados para a execução dos experimentos deve ser a principal meta.

Pretendemos com isso solucionar o problema que consideramos ser o maior entrave para o professor ao utilizar experimentos em sala de aula, pois a realidade de excesso de trabalho e as precárias condições do ensino no Brasil são fatores que, somados, desestimulam o professor a se utilizar deste procedimento.

Tudo deve ser simplificado: a coleta de materiais, a montagem e o transporte dos experimentos. De fato procuramos algo que seja o mais prático possível para o professor.

Para a seleção dos materiais temos dois critérios principais:

Após a primeira etapa de execução desse projeto, com a experiência adquirida em sala de aula, juntamos mais alguns critérios para nortear o trabalho:

Os experimentos que selecionamos são de domínio público. Porém, há uma série de fatores pelos quais os professores não os utilizam:

O projeto que ora estamos apresentando não inclui uma didática para aquele professor que se decida a utilizar os experimentos selecionados. Fica a cargo do professor modelar uma nova forma de lecionar, para aproveitar o interesse despertado pelos experimentos. Estamos no momento procurando elaborar uma sugestão para o professor da rede pública, uma vez que para estes o uso da didática tradicional é quase que unanimidade.

3. Exemplo

Nesta seção damos um exemplo de uma ficha de um dos experimentos de nossa coleção.

Gotas Marcantes

Objetivo

Mostrar o movimento de um objeto acelerado.

Contexto

Sem discutir as causas do movimento, podemos dizer que um objeto acelerado é aquele que varia a sua velocidade, sendo a aceleração a medida desta variação.

Este experimento serve para mostrar que para um objeto constantemente acelerado (pois está sujeito a uma força constante), a distância percorrida em diferentes intervalos de tempo iguais e sucessivos sempre aumenta. Se a distância percorrida aumenta e o intervalo de tempo permanece constante, é porque a velocidade aumentou.

Idéia do Experimento

O experimento consiste em permitir o movimento de um carrinho sob a ação de uma força constante, sendo que o carrinho possui um dispositivo que libera gotas em intervalos de tempos razoavelmente constantes. Estas deixam marcas sobre a mesa ou papel. É fácil de observar que para intervalos sucessivos, a distância aumenta. A força constante é proporcionada por um objeto que cai sob a ação da força da gravidade e puxa o carrinho.

Importante observar que as marcas a serem considerada são somente aquelas produzidas quando o carro se encontra sob a ação da força. Pois no momento em que esta cessa, ou seja, no momento em que o peso que cai bate no chão (veja a figura), o carro deixa de estar acelerado.

A massa do objeto que cai pode ser variada para mostrar que sob uma força maior, surgirá uma aceleração maior e conseqüentemente as distâncias percorridas sucessivamente serão maiores.

Tabela do Material

Item Observações
Um carrinho de brinquedo O carrinho deve rolar bem e ser grande o suficiente para sustentar o aparato de "pingagem" (equipo-soro).
Equipamento para aplicação de soro (equipo-soro) Encontrado para venda em farmácias. É barato e propicia um bom controle da freqüência de gotejamento.
Clipes São usados como massa variável para fazer o papel do corpo que cai sob a ação da força da gravidade. Podem ser substituídos por outro objeto qualquer. Pelo menos um (grande) será preciso para desviar a ação da força na borda da mesa.
Fita Adesiva  
Um espetinho de madeira para churrasco Será usado como sustentação para o equipo-soro. Qualquer outra vareta leve servirá. Pode ser feito com bambu ou até uma lixa de unha.

Montagem

Comentários Práticos

 

Esquema Geral de Montagem

4. Comentários Finais

O objetivo do trabalho a médio prazo é a edição de um livro, contendo uma boa coleção de experimentos. Envidaremos esforços para que este livro seja subsidiado por algum órgão oficial de modo que esteja amplamente disponível, tanto de ponto de vista financeiro como de distribuição, aos professores, principalmente da rede pública. No futuro queremos ampliar a coleção com experimentos voltados para o Ensino Fundamental. No momento, o trabalho que já foi desenvolvido encontra-se à disposição na Internet, nos endereços

http://dfisica.bauru.unesp.br/docentes/fcl/expers

ou

http://www.experimentosdefisica.bauru.unesp.br

em que os interessados podem copiar os experimentos que lhe interessem.

Como é o hábito da comunidade científica de citar as suas fontes, enfrentamos um problema no momento de determinar a autoria dos experimentos que já vimos publicados e que adaptamos segundo os nossos objetivos. Na maioria dos casos eles estão publicados em mais de um trabalho. Sendo que nestes trabalhos também não são citados o criador do experimento. Tratamos então o material como se fosse de domínio público.

5. Agradecimentos

Este trabalho tem sido financiado pelo Núcleo de Ensino da Universidade Estadual Paulista (UNESP), através da Pró-Reitoria de Graduação, com recursos gerenciados pela Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp). Agradecemos também a leitura atenciosa e as contribuições a este trabalho por parte da Prof.a Dra Maria Regina Cavalcante e Prof. Dr. João José Caluzi.

6. Bibliografia

  1. "700 Experiências", Compilação da UNESCO, Ministério da Educação e Cultura, Diretoria do Ensino Industrial, Brasília, 1964.
  2. "Física", texto organizado pela Physical Science Study Committee, Editora EDART, Sexta Edição, São Paulo, 1970.
  3. "Proposta curricular para o ensino de Física do Segundo Grau", Secretaria do Estado da Educação, Governo do Estado de São Paulo, Terceira Edição, São Paulo, 1992.
  4. Revista Brasileira de Ensino de Física, revista editada pela Sociedade Brasileira de Física, São Paulo.
  5. Caderno Catarinense de Ensino de Física, revista editada pelo Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
  6. "The Physics Teacher", revista editada pela American Association of Physics Teachers, Washington DC, Estados Unidos da América.
  7. "American Journal of Physics", revista editada pela American Association of Physics Teachers, Washington DC, Estados Unidos da América.
  8. "101 Physics Tricks: Fun Experiments with Everyday Materials", Terry Cash, Sterling Pub, 1992.
  9. "Be a Kid Physicist", William R. Wellnitz, Tab Books, 1993.
  10. "Clouds in a Glass of Beer: Simple Experiments in Atmospheric Physics", Craig Bohren, John Wiley and Sons, 1987.
  11. "Color and Light: Step-By-Step Science Activity Projects from the Smithsonian Institution (Hands-On Science)", Patricia Lantier-Sampon (Editora), Gareth Stevens, 1993.
  12. "Electricity and Magnetism Fundamentals: Funtastic Science Activities for Kids", Robert W. Wood e Bill Wright, McGraw-Hill, 1996.
  13. "Janice Vancleave’s Physics for Every Kid: 101 Easy Experiments in Motion, Heat, Light, Machines, and Sound", Janice Vancleave, John Wiley and Sons, 1991.